
Bolha, O Peixe Cantor de Ópera
- K. Fernandes
- há 6 dias
- 3 min de leitura
No meio da sala de estar, em um aquário redondo e azulado, vivia um peixinho dourado chamado Bolha.
Bolha era gordinho, laranja e tinha olhos arregalados de sonhador. Seu sonho? Ser um grande cantor de ópera!
Bolha passava os dias escutando a música que vinha da caixinha de som da sala. Ele amava as vozes altas, que faziam as janelas tremerem com a força da emoção.
— Ah, se eu tivesse uma garganta assim! — suspirava Bolha.
Ele tentava. Tentava com toda a força do seu corpo de peixinho. Ele abria a boca, respirava fundo (para um peixe), e se preparava para soltar um Dó-Maior potente.
Mas o que saía?
Poft! Poft! Poft! Apenas bolhas. Bolhas redondas, silenciosas e sem música.
Bolha não desistia. Ele praticava todos os dias, tentando imitar os diferentes estilos de música.
1. O Rap das Bolhas: Bolha soltava bolhas rápidas e agitadas (pfft-pfft-pfft), tentando imitar o ritmo veloz. Mas o som era zero, e ele só conseguia fazer a água tremer um pouquinho.
2. A Canção de Ninar: Ele tentava soltar uma única bolha lenta e demorada, para ser suave. A bolha subia lentamente, pooofff, e estourava sem fazer nem ploc.
3. A Ópera Final: E, claro, a ópera. Bolha ficava roxo de esforço e soltava uma bolha gigantesca.
Ela subia, quase encostava na tampa do aquário e... Pop! Apenas um mini-salpico de água.
— Nunca vou ser um cantor! — Bolha gritou (mas só fez bolhas). — Minha voz é vazia!
Ele ficou tão frustrado que decidiu fugir.
Ele usou a decoração do aquário como alavanca e se preparou para saltar para o tapete. Ele precisava achar o mar, o rio, qualquer lugar onde sua "voz" pudesse ser ouvida.
Antes que Bolha pudesse pular, ele ouviu uma voz lenta e sábia, que vinha do canto escuro do aquário.
— Para que tanta pressa, Bolha? Seus concertos estão melhores do que nunca.
Era Tina, a tartaruga, a mais velha e paciente moradora do aquário.
— Tina, você está me gozando? Eu só faço bolhas! Não faço som! Meu sonho é ser como o cantor de ópera, que faz TRAM-LÁ-LÁ!
Tina sorriu lentamente. — Bolha, você está cometendo um erro. Você está procurando o som, mas está ignorando o espetáculo.
Tina pediu a Bolha para soltar uma de suas bolhas gigantes. Ele se esforçou, e a grande bolha subiu lentamente.
— Agora, olhe para a parede! — disse Tina.
Bolha olhou. O aquário estava perto da janela. Quando a bolha gigantesca subiu, ela agiu como uma lente de aumento, capturando a luz do sol e projetando um círculo brilhante na parede da sala.
— Seu talento não é o som, é a luz! — explicou Tina. — Quando você solta as bolhas no ritmo certo, você faz a água vibrar. E a água, com a luz, desenha um show na parede!
Bolha ficou chocado. Ele tentou de novo, mas dessa vez, pensando no ritmo.
Ele soltou três bolhas pequenas, rápidas e depois uma grande e lenta. Pfft-pfft-pfft... Poofff.
Na parede, apareceram três pontinhos de luz rápidos, seguidos por um círculo de luz que crescia e encolhia. Era um Concerto de Luz e Bolhas!
A menina da casa, que estava triste, viu os pontos de luz dançando na parede. Ela riu e correu para o aquário.
Bolha não se importou mais com o som. Ele começou a criar sua própria música. Ele fazia bolhas em forma de coração, bolhas que pareciam chuva, e bolhas que formavam uma coroa de luz.
Ele era o único peixe dourado no mundo que podia transformar a luz do sol em uma canção silenciosa, mas cheia de ritmo. Ele tinha encontrado seu lugar no palco, e era feito de água, luz e bolhas.
Bolha percebeu que tentar ser um cantor barulhento o impedia de ver sua verdadeira magia. O talento dele era diferente, silencioso e visual, e era isso que o tornava especial. E a melhor canção é sempre aquela que a gente pode criar sendo exatamente quem a gente é.

Comentários